Essa é uma história real compartilhada e respondida por um dos autores do livro e treinamento Conversas Cruciais.Imagine a seguinte situação:
Seu filho pratica e ama artes marciais. Ele foi chamado duas vezes na academia aonde pratica o esporte por conta de supostos comportamentos agressivos.O professor, então, diz a você que se seu filho for agressivo novamente ele não poderá mais voltar para os treinos que tanto gosta. Você reconhece a importância do respeito e da disciplina no comportamento de seu filho. Porém, sabe que ele não é uma pessoa agressiva como o professor está dizendo.
Ou seja, para você, quem está falhando é o instrutor por ver seu filho dessa maneira e não como alguém que possa precisar apenas de um pouco mais de treino e paciência. Você, afinal, o colocou nas aulas porque sabia que isso o ajudaria a ter uma formação mais sólida e quer para ele uma educação que exija mais de si e o ensine, assim, a evoluir - o que considera que será mais difícil se simplesmente tira-lo de lá.Então, você procura seu filho para conversar e acaba tendo uma conversa crucial. Ele entende por quê suas atitudes foram percebidas de modo negativo, mesmo que isso não tenha sido a intenção dele. Ele quer continuar tentando melhorar e não quer sair da aula. Como você fala com o tal professor e o ajuda a enxergar essa situação para que seu filho não seja expulso?
Ensinando técnicas de relacionamento interpessoal ao seu filho
Eu tenho algumas dicas. Por favor, entenda que estou limitado apenas às informações que você me passou e posso acabar chegando a impressões erradas. Contudo, o que eu quero apenas é te ajudar - pelo encorajamento e pelo desafio.Primeiro, eu posso dizer que um professor de artes marciais não usaria o termo agressivo se esse comportamento não fosse aparente. Eu vou assumir, assim, que esse termo veio acompanhado de pelo menos alguma(s) agressão(es) física(s). Vou assumir também que sua turma é pequena - como a maioria das turmas de artes marciais é. Você disse que o professor chamou duas vezes a atenção do seu filho por conta disso. Se é uma turma pequena, isso significa que a maioria das crianças ali presentes testemunharam esse comportamento nessas duas outras ocasiões.Essas são as minhas dicas:
- Considere a opinião dos outros e incentive isso nele.
Eu diria para você se importar com as outras crianças da mesma maneira que se importa com o seu filho. Dada a situação de você ser o responsável pelos interesses dele (e seus), eu fico preocupado que você possa acabar não percebendo muito que o suposto comportamento do seu filho acabe afetando os demais alunos e seus pais. O professor com certeza considerou ambos os interesses (seu, do seu filho e dos outros alunos), pois do contrário ele já teria expulsado seu menino logo na primeira ocasião.Ele está expondo seus alunos a um comportamento agressivo pela terceira vez. Ou seja, você não vai ter muita influência com o professor se considerar apenas os seus (e do seu filho) interesses nessa história e não os interesses físicos e psicológicos de toda a turma. Mas veja bem, não estou dizendo que expulsar seu filho seja a única opção viável, mas sim sugerindo que se você quer que os outros se importem com os seus interesses você precisa se comprometer a assegurar também os deles.
- Pense sobre o que você REALMENTE deseja.
Você parece focado em assegurar que seu filho não será expulso dos treinos. É isso mesmo que você realmente quer? O problema que temos aqui é sobre ajuda-lo a aprender sobre a vida e as consequências de se fazer algo errado ou sobre ficar em uma determinada academia de artes marciais? Você diz que ser agressivo com os outros "não era sua intenção”.Pode estar certa, contudo a vida consiste não apenas em intenções, mas sim ações. E se as ações de seu filho machucaram alguém , a vida deve ensinar ele a aceitar as consequências.Poderia ser que o melhor jeito de ensinar ele a ter mais compaixão e responsabilidade seria ele perder essa oportunidade. Você chegou a considerar isso? Você está disposta a aceitar isso? Se não, então seus motivos podem ser diferentes dos que você acha que são.
- Permita a ele cuidar de seus problemas.
Mais uma vez, se seu objetivo é ajuda-lo a se tornar uma pessoa responsável, eu sugiro que pare de tentar resolver esse problema por ele e deixe-o resolver sozinho. Eu, como alguém que já foi um professor de artes marciais, posso dizer que me sentiria muito mais impressionado com o remorso de um aluno admitindo que errou, e que quer reconquistar minha confiança, do que com um pai ou mãe persistentes dizendo que eu não fui condescendente com o comportamento do garoto.A melhor maneira de fazê-lo melhorar sua empatia é conecta-lo pessoalmente com aqueles que ele errou - tanto o professor como os outros alunos. Não retire dele a oportunidade de crescer se redimindo com seus erros ao tentar traçar melhores saídas para seus problemas.Posso dizer que me importo profundamente com seu filho e sei que nada é mais difícil ou incerto na vida do que determinar qual seria a melhor ação para influenciar corretamente outra pessoa. Desejo o melhor para vocês nessa decisão.
Por Joseph Grenny, Traduzido e adaptado por Aspectum.