Não é novidade pra ninguém que a cultura dos games chegou para ficar. E não só entre jovens. Segundo pesquisa do NPD Group, 82% da população brasileira entre 13 e 59 anos, joga algum jogo online, seja em tablet, celular, PC ou videogame. Por conta dessa febre, os E-games mais populares, inclusive, já estão até com transmissão ao vivo de campeonatos nacionais e mundiais em canais esportivos, o que até pouco tempo atrás era visto como um tabu.Contudo, por mais que a moda tenha pegado com força, os cuidados com os jogos online não podem ser deixados de lado. Por mais que agora os pais também tenham virado gamers, esses não podem deixar de estar atentos aos males que podem ser causados pelo consumo ilimitado de jogos online, principalmente para seus filhos.Afinal, desde os anos 90 que cientistas já alertam sobre os riscos de jovens desenvolverem apenas algumas partes do cérebro, como visão e movimento, quando jogam excessivamente. Ou seja, com o vício, partes que desenvolvem as emoções e o comportamento, por exemplo, ao serem pouco estimuladas, ou apenas estimuladas dentro de uma lógica específica dos games, podem acabar não se desenvolvendo tanto, tornando a pessoa agressiva ou antissocial.Ao trazer uma sensação de bem-estar, jogar pode liberar quantidades significativas do neurotransmissor dopamina. O excesso da liberação desses neurotransmissores, que, pode ser comparado, inclusive, ao uso de drogas estimulantes como a anfetamina, pode levar até mesmo à depressão.Em pesquisa realizada na China, estudos de ressonância magnética foram feitos nos cérebros de 18 estudantes universitários que passaram uma média de 10 horas por dia on-line, principalmente jogando jogos como World of Warcraft. Quando comparados a outro grupo que jogou menos de duas horas por dia, foi detectado nos primeiros jogadores uma menor quantidade de matéria cinzenta, a parte pensante do cérebro.Mas os jogos em si não são os vilões. Afinal, se jogar em excesso pode ser perigoso para um jovem, jogar também permite a ele desenvolver uma maior capacidade analítica, característica cada vez mais necessária para o mundo adulto nos dias de hoje.Como aponta artigo da revista Neurology Now, diferente do aprendizado básico que temos quando repetimos uma tarefa comum, que proporciona a capacidade de melhorar especificamente apenas a determinada habilidade requerida pela tarefa, os games permitem um aprendizado mais holístico, como coloca o professor da Universidade de Wiscosin-Madison e Ph.D em psicologia, C. Shawn Green.“Diferente de outras ferramentas de treinamento do cérebro, os games ativam a parte da recompensa, fazendo o cérebro ficar mais receptivo a mudanças”, afirma.Com tudo isso em mente, como lidamos com a questão “jogos online” dentro de casa, já que cada vez mais a cultura gamer é uma realidade não só para crianças e jovens, como até mesmo para adultos?Veja a seguir as dicas que nosso especialista em ciência comportamental, pai de seis filhos e autor do livro best-seller do New York Times Princípios da Influência, Joseph Grenny, deu para um pai desesperado com seu filho aparentemente viciado em jogos online:Meu filho de 14 anos é viciado em jogos eletrônicos. Se o deixarmos, ele passa 10 horas por dia em seu tablet, computador ou Xbox. Eu, como pai, queria que ele fizesse outras coisas, algo que valha a pena, durante o verão. Existe uma abordagem melhor do que a proibição forçada? – o pai de um viciado em jogos online.Prezado pai de um gamer,Gosto da maneira como você definiu seu objetivo: "Eu quero que ele escolha fazer outras coisas". Esse é um problema de influência completamente diferente de "Eu quero que ele pare". Como um pai de seis filhos, muitas vezes fui tentado a tentar a rápida solução que você colocou no final, em vez de tentar a influência constante da primeira opção. O último poderia ser realizado simplesmente derramando refrigerante de laranja sobre os dispositivos problemáticos e, em seguida, fingindo remorso com eles em curto circuito. Já o primeiro, exige não só mais pensamento, mas também mais paciência e caráter de sua parte.Aqui vão cinco dicas.
- Considere se esse problema é mesmo O problema. Antes de decidir que os jogos eletrônicos são O problema, faça o melhor para determinar se os jogos são uma forma de se manter longe ou contra algum outro problema - como bullying, depressão, ansiedade, solidão ou outros problemas sociais ou emocionais.
- Entreviste-o, não o leia. Não comece uma conversa sobre o assunto com seu adolescente usando conclusões e sabedoria (por exemplo, "eu acho que você tem um problema" ou "leitura é melhor para o seu cérebro"). Em vez disso, mostre curiosidade e desejo de se conectar. Mostre interesse em seus interesses. Passe algum tempo com ele. Deixe-o seguro. E quando houver segurança suficiente, aborde o tópico. "Josh", você pode dizer, "em uma escala de um a 10 quão satisfeito você está com o modo como você gasta seu tempo?" Ele pode ficar na defensiva quando você perguntar pela primeira vez - supondo que seu motivo real seja impor seus julgamentos. Se assim for, assegure-o, que não é essa sua intenção. Ele pode responder: "Talvez um seis." Agora você tem um ponto comum para discutir. "Uau. Mesmo? Eu teria pensado que você diria um 10. O que te faz não estar plenamente satisfeito com a forma como você gasta tempo? ” Sua única esperança de ajudá-lo a fazer escolhas diferentes é honrar seus sentimentos e autonomia. Entreviste-o. Não o leia. Isso não significa que você não pode expressar opiniões às vezes, mas mantenha-se antenado em manter o equilíbrio e o cuidado na hora de mostrar seus interesses.
- Desperte-o - não o force. Para sustentar maus hábitos, devemos manter a ignorância de suas consequências. Se você quiser ajudá-lo a "escolher" de forma diferente, você terá que ajudá-lo a experimentar a desvantagem de seu hábito com a mesma facilidade que ele agora experimenta a vantagem. O que ele sabe hoje é que pegar um controle e entrar em um jogo (se ele joga jogos online) está associado a sentimentos de engajamento, prazer, conexão social, domínio e talvez solidão segura. Se ele escolher algo diferente, ele precisará sentir que outras escolhas irão criar melhores consequências. Isso é complicado, mas também é um problema fundamental que você precisa resolver.
- Sugira um teste de abstinência. Para ajudá-lo a "despertar", você pode convidá-lo a experimentar a descobrir seu próprio modo de discernir entre “jogar de modo saudável” e “jogar de modo não-saudável”, tentando uma breve experiência de abstinência e registrando o que se passa com ele durante esse momento de ausência. Discuta abertamente como ele se sentiu e o que isso significa para ele.
- Não force - mas não seja permissivo também. Perceba que você é um cúmplice de suas escolhas e está subsidiando essas escolhas, mantendo tarefas domésticas para ele, fornecendo o equipamento, proporcionando o ambiente confortável, etc. Portanto, tenha limites com tudo o que você oferece. Fornecer comida não significa que você tenha que dar chocolate toda vez que ele pedir. Você diz: "Aqui está o que estou disposto a oferecer - e não mais". Agora, porque seu objetivo é influenciar suas escolhas, e não controlar comportamento dele, eu sugiro que você estabeleça um equilíbrio diferenciando limites e conselhos. Você pode dizer: "Eu acho que seria bom limitar seu uso a uma hora ou mais por dia. Isso é algo que você terá que decidir. No entanto, estou disposto a oferecer a oportunidade para você jogar até três horas por dia - e cinco nos fins de semana - desde que suas notas sejam boas e sua lição de casa esteja terminada. "(Nota: eu ofereço esses números como ilustração, não como uma recomendação explícita.)
O jeito para influenciá-lo para melhor é manter seus motivos corretos, manter limites razoáveis e se concentrar em ajudá-lo a aprender a reconhecer as consequências de seus atos em sua própria vida.